Primeiro latino-americano à frente da Igreja Católica foi ao mesmo tempo pastor e pontífice, conservador e não convencional. Mas não conseguiu cumprir as expectativas de reformas.
“Esta manhã, às 7h35 (2h35 em Brasília), o Bispo de Roma, Francisco, retornou à casa do Pai”, anunciou o Cardeal Kevin Farrell em um comunicado publicado pelo Vaticano em seu canal do Telegram.
Neste domingo, o pontífice apareceu na sacada da galeria central da Basílica de São Pedro para a bênção Urbi et Orbi após a missa do Domingo de Páscoa e depois saudou os fiéis circulando a Praça de São Pedor a bordo do papamóvel, usando o veículo pela primeira vez após deixar hospital.
Francisco não participou de nenhum dos ritos da Semana Santa, pois continua se recuperando após passar 38 dias no hospital com pneumonia bilateral e receber alta em 23 de março.
Francisco foi o primeiro papa da América Latina, o primeiro jesuíta à frente da Igreja Católica. E nunca antes um líder da Igreja escolhera este nome tão programático, porque evoca Francisco de Assis (1182-1226).
O papa Francisco morreu, segundo comunicado do Vaticano divulgado nesta segunda-feira (21/04).
Francisco de Assis, filho de um comerciante que renunciou a todas as riquezas, seguiu o chamado de Jesus por uma vida na pobreza radical e fundou a ordem franciscana com este espírito. O nome papal Francisco não soa como o esplendor dos palácios do Vaticano, não lembra um chefe da Igreja e de Estado.
O argentino Jorge Mario Bergoglio, eleito papa em 2013, não escolheu esse nome sem motivo: como nenhum Santo Padre antes dele, defendeu os refugiados e os sem-teto e lutou pela proteção da Criação e do clima. Com isso, impressionou o mundo. Nos últimos tempos vinha sofrendo visivelmente com a diminuição de suas forças.
Pronunciamento incendiário
Quando o papa Bento 16 surpreendentemente renunciou em fevereiro de 2013, afloraram as especulações no Vaticano, também sobre o sucessor. Bergoglio, então com 76 anos, era pouco citado como candidato, muito menos como favorito.
O arcebispo de Buenos Aires, descendente de imigrantes italianos, já fora um dos candidatos no conclave de 2005, ao lado do alemão Joseph Ratzinger. Antes de sua escolha como sumo pontífice em 2013, porém, Bergoglio tomara a palavra num “pré-conclave”, o primeiro de seu tipo, no qual os cardeais queriam trocar opiniões sobre a situação da Igreja.
Eram palavras inusitadas, vidas de um cardeal, sobretudo um que se tornaria papa. O poder desse discurso ainda pode ser sentido no documentário de Wim Wenders Papa Francisco: Um homem de palavra (2018). Também aqui, o chefe da Igreja Católica prega, num discurso acessível, um novo começo para a Igreja e a proximidade com os marginalizados.
Sua conduta foi coerente com essas propostas. Ao contrário de seus predecessores, por séculos, Francisco não se mudou para o Palácio Apostólico, que se ergue no alto da Praça de São Pedro, como a residência de um soberano, e transpira passado. Em vez disso, ficou alojado em dois quartos da Casa de Hóspedes do Vaticano durante todo o seu pontificado. E fazia as refeições na mesma sala onde os funcionários ou convidados eram servidos com um simples buffet.